Para que não pareça que não tenho sentimentos nenhum em relação à demolição da Fonte Nova (afinal esse blog trata muito disso, né? Sentimentos e impressões – os meus, as minhas rsrs), deixo aqui uma passagem do livro de Risério que fala da inauguração do estádio. Vocês verão a existência de uma certa “ironia do destino” na história da Fonte Nova de acordo com esta fala do autor.
A CAMINHO DA FONTE NOVA
(…)
A essa altura, tempos do Bahia campeão, os jogos já não aconteciam no Campo da Graça, é claro, mas na Fonte Nova. O projeto do novo estádio, cujas obras foram iniciadas em 1943, veio com a assinatura do arquiteto Diógenes Rebouças. e foi um trabalho de engenharia que surpreendeu os baianos. Na descida da ladeira da Fonte das Pedras, atrás do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, dirigido por Anfrísia Santiago, havia uma colina. Todos pensaram que o novo estádio seria erquido sobre ela. Não foi. As máquinas entraram em ação para escavá-la, desempenhando o gramado lá em baixo, já no nível do Dique. As arquibancadas, como prateleiras, foram colocadas de baixo para cima. Mas a obra só foi se completar muitos anos depois, já à entrada da década de 1970, no governo de Luis Viana Filho, quando re-inauguraram o estádio. Com festa e desastre.
As pessoas, desconfiadas, diziam que a Fonte Nova não suportaria o peso de mais de cem mil pessoas. A paranoia estava na cabeça de todos. Durante o jogo principal, depois do Bahia derrotar o Flamengo com um gol de Zé Eduardo, quando Grêmio e Vitória disputavam a bola em campo, um refletor pipocou. E alguém gritou: “a Fonte nova está caindo”. O pânico foi geral. Correria. Gente pulando de cima para baixo, Poeira, pisoteio, confusão e pânico. No meio disso tudo, completamente apavorada, uma militante do MR-8 (Movimento Revolucionário Oito de Outubro) se entregou à polícia. A história foi contada no livro Lamarca, o capitão da Guerrilha, de Emiliano José e Oldack Miranda. Representantes da repressão militar voaram para Salvador. E assim acabaram chegando, pelo início da “queda” do MR-8, a Carlos Lamarca, um dos principais líderes da esquerda armada brasileira, fuzilando-o.
Mas a Fonte Nova, como todos sabem, não caiu. A bola continuou a rolar. O Bahia chegou ao bicampeonato brasileiro, ao empatar com o Internacional em Porto Alegre, em pleno Beira Rio, depois de derrotá-lo aqui. o vitória caprichou, inclusive fazendo estádio prórpio. Novos craques não deixaram de surgir. No Bahia e no Vitória, especialmente. De Zé Eduardo a Bobô, de Bebeto a Vampeta e a Dida. E hoje, para falar a verdade, só falta o Ypiranga renascer. com Y ou com I. Tanto faz. Desde que de amarelo e preto (pág. 511-512).
Deixe um comentário